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CAN 2015: Guiné Equatorial "quer ficar bem na fotografia"

António Rocha / gcs12 de janeiro de 2015

Tanto o Governo de Malabo como os defensores dos direitos humanos estão entusiasmados com o CAN 2015. Por razões distintas. O regime quer ficar bem na fotografia, os ativistas esperam trazer à luz do dia o país "real".

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Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma

O Governo da Guiné Equatorial garante que está tudo a postos para o arranque da Taça das Nações Africanas (CAN), que decorre de 17 de janeiro a 8 de fevereiro. O país, que co-organizou o CAN em 2012 com o Gabão, aceitou receber a edição deste ano depois da desistência, no último minuto, de Marrocos, devido à epidemia do ébola que afeta alguns países da África Ocidental.

O CAN é uma oportunidade preciosa que o Governo de Malabo não quererá perder para favorecer a sua imagem no exterior, comenta Victor Nogueira, da secção portuguesa da Amnistia Internacional.

Aliás, esta não seria a primeira vez. Nogueira lembra que "o Governo já criou inclusive um prémio para a UNESCO ['para a investigação das ciências da vida'] e tem procurado obter uma imagem que lhe seja favorável a nível internacional."

Direitos humanos

A Amnistia Internacional é uma das organizações não-governamentais que tem criticado sistematicamente as autoridades de Malabo por não respeitarem os direitos humanos. Em março de 2014, a Amnistia denunciou que a Guiné Equatorial executou, pelo menos, quatro prisioneiros que estavam no corredor da morte, apenas duas semanas antes de o país anunciar que iria suspender a pena, uma condição para a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Trata-se de um regime bastante repressivo, ditatorial, onde os opositores são atacados", afirma o responsável da Amnistia. "O funcionamento da Justiça é altamente reprovável. Há execuções extra-judiciais e há repressão sobre a imprensa e liberdade de expressão."

Victor Nogueira Amnesty International
Victor Nogueira, da Amnistia InternacionalFoto: Amnesty International

Além disso, a Guiné Equatorial é um país rico em petróleo, mas a sua população beneficia muito pouco dos recursos conseguidos com a exportação do "ouro negro". A elite no poder é acusada de desviar para contas privadas toda a riqueza gerada pela exploração petrolífera. No Índice de Perceção da Corrupção de 2013 da organização Transparência Internacional, o último em que a Guiné Equatorial consta, o país ficou em 163º lugar num total de 177 Estados.

"O país das riquezas petrolíferas tem um rendimento 'per capita' relativamente elevado em relação à média do continente, mas a pobreza e desigualdade no país é muito grande", recorda Victor Nogueira. De forma idêntica, a realização do CAN beneficiará muito pouco os cidadãos comuns da Guiné Equatorial, acredita o responsável da secção portuguesa da Amnistia Internacional.

Reverso da medalha

Pedro Krupenski, presidente da Coligação das ONG portuguesas, concorda que a Guiné Equatorial, liderada desde 1979 por Teodoro Obiang, aproveitará o CAN para branquear a sua imagem no exterior: "Um campeonato de futebol no contexto africano é uma ótima ocasião para ficar bem na fotografia", diz.

Porém, Krupenski refere que o evento desportivo poderá também o país "real" para a luz do dia. "O CAN pode também ser um abrir de portas para que se veja aquilo que, genericamente, se está a passar no país ao nível dos direitos humanos", diz.

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"Havendo alguma atenção internacional sobre o país, os meios de comunicação poderão aproveitar essa ocasião para denunciar as situações que não estão conforme aquilo que o regime vai passar para o mundo."

Tratando-se de um evento desportivo de prestígio, pelo menos a nível continental, e, por conseguinte, muito mediatizado, a presença de jornalistas na Guiné Equatorial será grande. Victor Nogueira, da Amnistia Internacional, espera que eles não se limitem a noticiar os resultados desportivos.

"É evidente que há restrições, mas se os jornalistas estiverem interessados conseguirão certamente divulgar uma parte daquilo que não está à vista", afirma.

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