1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Campanha eleitoral em Angola "será totalmente parcial"

26 de julho de 2012

De acordo com o jornalista Rafael Marques, a campanha não será equilibrada, pois os órgãos de comunicação do Estado não são isentos.

https://p.dw.com/p/15f70
Jornalista Rafael Marques
Jornalista Rafael MarquesFoto: Maka Angola

Já foi definido o tempo de antena para os partidos. Na rádio, o tempo de cada partido é de dez minutos; na televisão, será de cinco minutos. A campanha eleitoral começa na próxima semana, dia 31 de julho, e dura até dois dias antes do pleito, marcado para 31 de agosto. Mas a campanha será equilibrada?

A campanha eleitoral decorre até dois dias antes das eleições gerais, a 31 de agosto
A campanha eleitoral decorre até dois dias antes das eleições gerais, a 31 de agostoFoto: picture-alliance/dpa

Em Angola, existe uma predominância dos meios estatais e de empresas privadas dominadas pelo MPLA, o partido no poder. No país, apenas duas emissoras não são controladas pelo MPLA: a Rádio Ecclesia, da Igreja católica, e a Rádio Despertar, da UNITA, o maior partido da oposição.

De acordo com o jornalista e analista político angolano Rafael Marques, o MPLA poderá ter vantagens, apesar de ter o mesmo tempo de antena que os outros partidos concorrentes às eleições.

DW África: Acha que a campanha eleitoral angolana será equilibrada?

Rafael Marques (RM): O uso dos órgãos de comunicação social está praticamente destinado ao partido no poder, o MPLA. Apesar de haver o tempo de antena, que concede diariamente dez minutos a cada partido, a verdade é que hoje de manhã, por exemplo, o programa da Rádio Nacional dedicou bastante tempo às realizações do governo do MPLA e, de forma exagerada, fazia propaganda a este partido. Logo, não está a cumprir com a lei eleitoral sobre o tempo de antena.

Os órgãos do Estado não são isentos: estão ao serviço do MPLA, como partido no poder, e do Presidente da República. E esta é uma situação que os partidos políticos da oposição devem denunciar, apresentando queixas, tal como os cidadãos preocupados.

DW África: Acha que a população em geral pode ter acesso a informações "plurais" sobre a campanha?

José Eduardo dos Santos, líder do partido no poder, o MPLA
José Eduardo dos Santos, líder do partido no poder, o MPLAFoto: Getty Images

RM: A população tem plena consciência do que se passa e acredito que votará de acordo com a sua consciência. Mas o resultado das eleições não depende tanto do eleitor, depende da forma como o MPLA controla o centro de escrutínios. Vou-lhe dar um exemplo: nas eleições passadas, a votação excedeu os 100% em certas zonas.

DW África: Como essa dominância dos meios de comunicação angolanos pelo MPLA poderá se refletir na campanha eleitoral?

RM: Acabará por ser uma campanha eleitoral totalmente parcial, com os órgãos do Estado a agirem de forma parcial para a promoção da imagem do partido no poder. Serão eleições em condições totalmente desleais, em que os partidos da oposição não têm hipóteses, em termos de meios, de concorrer com algum equilíbrio.

DW África: Quais as chances de os partidos da oposição passarem a própria mensagem?

RM: Nos dez minutos a que têm direito por dia. Porque, pela lei eleitoral, cada partido tem 10 minutos na rádio e 5 minutos na televisão de tempo de antena. Esse será o único espaço onde os partidos poderão passar a sua mensagem, ao passo que o MPLA está presente em todos os noticiários e tem programas especiais.

O indivíduo acorda de manhã e a rádio fica uma hora a falar sobre os benefícios da ação deste governo durante uma, duas, três horas, o tempo que for necessário.

Autora: Renate Krieger
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha

26.07 Tempo de Antena Rafael Marques Entrevista - MP3-Mono