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Câncer de pele: como as células normais se tornam malignas?

29 de janeiro de 2013

Cientistas belgas descobriram como as células da pele se transformam em células cancerosas. Eles esperam agora poder desenvolver um creme que inibe esse processo e, assim, prevenir ou até mesmo curar a doença.

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Foto: picture-alliance/dpa

Seria como se um adulto saudável regredisse até se tornar um bebê novamente e depois voltasse a crescer, só que dessa vez doente – rudimentarmente, esse é o processo pelo qual a célula cutânea passa antes de desenvolver um tumor maligno: ela se reprograma.

Foi isso que descobriram os cientistas da Universidade Livre de Bruxelas. Eles pesquisaram a carcinoma basocelular, o tipo de câncer de pele mais comum na Europa, Austrália e nos Estados Unidos, também chamado erroneamente de câncer de pele branca.

Culpa não é só das células-tronco

Até o momento, os cientistas supunham que as células do câncer de pele eram sempre células-tronco mutantes. As células-tronco normais cuidam da regeneração natural da pele. Quando elas sofrem mutação, ou seja, seu código genético é alterado, pode ocorrer uma proliferação descontrolada dessas células.

Os pesquisadores da equipe de Cédric Blanpain puderam demonstrar, entretanto, que até mesmo células normais e saudáveis podem ser reprogramdas para se tornarem células cancerosas – não apenas as células-tronco.

Martin Sprick, do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer, em Heidelberg, acredita que o câncer pode se desenvolver de duas formas: a partir de células normais e a partir de células-tronco. "As diferentes origens também poderiam ser a razão pela qual diferentes tumores têm características tão distintas", disse o pesquisador.

A persistência do tumor

Menschliche embryonale Stammzellen FBF
Células-tronco embrionárias formam qualquer tipo de tecido no corpo, mas podem se degenerar em câncerFoto: Public Library of Science / Wikipedia

Quando as células da pele se reprogramam, elas gradualmente assumem um estado semelhante ao das células-tronco embrionárias – que, na verdade, só podem ser encontradas em embriões. Elas têm a capacidade de construir todos os tecidos do corpo humano, já que sua função é reparar danos nos tecidos.

As células-troco adultas, encontradas no corpo após o nascimento, podem se transformar apenas em certas células dos tecidos. Assim, elas seriam menos propensas a se degenerar em câncer do que as células-tronco embrionárias.

O fato de as células cutâneas se reprogramarem para um estado semelhante ao das células-tronco embrionárias explica por que muitos cânceres já tratados voltam a crescer: porque as célular que originaram o câncer também reparam tecidos cancerosos. E assim o tumor cresce ainda mais rápido.

Os cientistas belgas também puderam demonstrar que as células que originam o câncer só se tornam células cancerosas quando a via bioquímica denominada Wnt/beta-catenina está ativa, transportando certas proteínas para a célula. Ao bloquear essa via bioquímica, a reprogramação seria impedida, prevenindo assim que as células reprogramadas se tornem malignas.

Sommer Deutschland 2012
No futuro, protetores solares podem prevenir ou até curar o câncer de peleFoto: dapd

Creme contra o câncer

O pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas espera que, no futuro, um creme possa ser desenvolvido para bloquear essa via bioquímica na célula. "Poderíamos adicionar o agente bloqueador em protetores solares, o que causaria quase nenhum efeito colateral – exceto pela perda de pelos, que do ponto de vista estético não é necessariamente algo negativo", diz Blanpain.

O futuro idealizado pelo cientista não está tão distante da realidade. Desde o começo de 2012, existem pílulas que inibem uma outra via bioquímica, chamada via de sinalização Hedgehog. Elas são prescritas para pacientes nos quais a carcinoma basocelular – ou câncer de pele branca – está em estado avançado.

O medicamento ajuda um em cada dois pacientes estudados, porém, age no corpo todo, causando fortes efeitos colaterais. "Por esse motivo, o desenvolvimento de um creme para aplicação local seria definitivamente um avanço importante na prevenção e tratamento do câncer", disse o pesquisador alemão Martin Sprick.

Autor: Lisa Kittel (mas)
Revisão: Francis França