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Busca por independência energética impõe desafios a Israel

Ulrike Schleicher (md)10 de abril de 2013

Situado numa das poucas áreas sem petróleo do Oriente Médio, país iniciou exploração de grandes reservas de gás natural na costa. Promessa é de lucro, mas situação conturbada com vizinhos causa empecilhos à exportação.

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Foto: Getty Images

Israel sempre foi dependente de importações de gás natural e carvão para atender às suas necessidades energéticas. Tanto que uma piada recorrente no país diz que, por engano, Moisés levou o povo judeu justamente para uma das raras regiões do Oriente Médio onde não há petróleo.

Mas agora começa uma nova era. Há poucos dias, pela primeira vez, fluiu gás natural do fundo do mar a partir do campo de Tamar, no Mediterrâneo, cerca de 90 quilômetros a oeste de Haifa. O gás foi bombeado através de dutos subterrâneos para uma usina na cidade portuária de Ashdod e depois introduzido na rede de energia.

"É um passo importante para a independência energética de Israel", declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na inauguração das instalações, enquanto o ministro israelense da Energia, Silvan Shalom, qualificou o evento de histórico.

Até então, Israel havia procurado petróleo no mar durante décadas, sem sucesso. Após a descoberta de uma fonte menor de gás na costa de Ashdod, em 1999, foram encontrados grandes depósitos no campo Tamar em 2009 e 2010 – a uma profundidade de 5 mil metros e com uma estimativa de 238 bilhões de metros cúbicos – e, um pouco mais distante da costa, o campo Leviatã – com aproximadamente 450 bilhões de metros cúbicos, hoje a maior reserva de gás natural do mundo.

Israel beginnt mit Gasförderung aus dem Tamar-Feld vor der Küste
Funcionários em sala de controle do campo de gás de TamarFoto: Getty Images

Vizinhança hostil

O gás torna Israel independente de países como o Egito, que desde 2005 fornecia gás em grande escala e a preços favoráveis ao vizinho, sobretudo para a geração de eletricidade. Mas essa fonte foi interrompida após a queda do presidente Hosni Mubarak. Devido a constantes ataques ao gasoduto, o governo egípcio decidiu rescindir o contrato em 2012. Desde então, os preços aumentaram até 25% para os consumidores israelenses. Mesmo agora ainda não há uma redução de preços à vista.

Se os consumidores israelenses não podem ser diretamente beneficiados pelas novas fontes de energia, então quem está lucrando? Em primeiro lugar, os investidores. Entre eles, estão incluídos, além da companhia texana Noble Energy, acionista majoritária, o israelense Delek Group, a Isramco e, como acionista minoritário, a Dor Alon. Essas empresas investiram, ao todo, 2,8 bilhões de euros nos trabalhos de perfuração, um risco que parece ter valido a pena.

Benjamin NetanyahuBenjamin Netanjahu
Netanyahu disse que exploração é passo importante para independência energéticaFoto: AFP/Getty Images

Mas o Estado israelense também ganha: por meio de impostos. É esperada uma arrecadação equivalente a cerca de 30 bilhões de euros nos próximos 25 anos. Netanyahu anunciou que pretende, com o dinheiro, preencher lacunas do Orçamento estatal.

Exportação difícil

Outro negócio poderia ser a exportação. No entanto, devido à sua posição geopolítica, Israel precisa de parceiros. E são exatamente eles que causam problemas. Isso ficou claro durante uma conferência do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv, em julho passado, na qual especialistas da Europa e da Turquia debateram a questão.

O comissário israelense de Petróleo, Alexander Varhavsky, afirmou que é possível exportar mais da metade da produção durante 25 anos, o que é equivalente a cerca de 400 bilhões de metros cúbicos. Um pré-requisito, porém, seria uma colaboração com Líbano, Turquia e Chipre – o que parece difícil no momento.

O Líbano reivindica parte dos campos explorados de gás de Israel, argumentando que se encontram dentro de seu território marítimo. Enquanto Israel começou cedo a fazer acordos com o Chipre sobre fronteiras marítimas, a situação com Beirute sobre o tema permanece sem solução.

Ägypten Pipeline Sabotage Anschläge Feuer Brand
Sabotagens impediram continuidade de acordo com Egito. Há temores de que o mesmo ocorra com campo de gásFoto: picture-alliance/dpa

Mas mesmo por trás do acordo com o Chipre há um ponto de interrogação. Pois quando se trata dos direitos cipriotas, a Turquia, cujo Exército controla a parte norte da ilha, também desempenha um papel importante. O governo em Ancara já anunciou que vai querer ser envolvido nas conversas. Com isso, Israel fica numa situação difícil.

De acordo com os investidores, o gás pode começar a ser exportado dentro de três anos, quando o campo Leviatã estiver em operação. Isso traria vantagem para muitos países. "A energia de Israel seria confiável e seria uma energia limpa", diz Varshavsky.

A UE poderia se beneficiar, com a redução de sua dependência da Rússia. Mas encontrar um caminho através da Europa tarefa complicada. Uma possibilidade seria através da Turquia. Uma empresa do país tem planos de transportar o gás através de dutos no Mediterrâneo.

Atualmente, no entanto, falta algo mais decisivo. O novo governo israelense não tem planos para uma política de exportação futura. Mas uma coisa é certa: a Marinha israelense vai ter mais trabalho. Ela terá que proteger o campo de Tamar de possíveis ataques.