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Burkina Faso a ferro e fogo

António Rocha (com Agências)30 de outubro de 2014

Milhares de pessoas foram para as ruas de Ouagadougou protestar contra o alargamento do mandato do Presidente, há 27 anos no poder. Incendiaram o Parlamento e ocuparam a televisão pública. Pelo menos uma pessoa morreu.

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Foto: Getty Images/ AFP/ Issouf Sanogo

Assembleia Nacional incendiada, televisão pública ocupada, violência no interior do país: esta foi uma quinta-feira (30.10) em que o Burkina Faso esteve a ferro e fogo. Observadores notam que esta é uma situação extremamente preocupante e perigosa para o regime de Blaise Compaoré, um dos homens fortes da região ocidental de África, no poder há 27 anos e muito contestado pela população do país.

Compaoré está no poder desde outubro de 1987, depois de levar a cabo um golpe de Estado em que Thomas Sankara, apelidado por alguns como o "Che Guevara de África", foi assassinado. Desde 1991, o Presidente burkinabé foi reeleito quatro vezes: primeiramente para dois mandatos de sete anos e, depois, para dois mandatos de cinco anos.

Agora, Comparé pretenderia continuar na Presidência. A 21 de outubro foi anunciado um projeto de revisão da Constituição que aumenta de dois para três o número máximo de mandatos presidenciais de cinco anos. A população foi para as ruas protestar.

Burkina Faso Demonstranten besetzen das Staatsfernsehen 30.10.2014
Manifestantes invadiram televisão nacionalFoto: Reuters/Joe Penney

"O poder do capitão Blaise Compaoré revela-se como uma ditadura militar constitucionalizada", disse o secretário-geral do Conselho Nacional dos Trabalhadores, Augustine Blaise Hien, num protesto que juntou milhares de pessoas na capital Ouagadougou. "Continuaremos a lutar pela liberdade e por uma verdadeira democracia baseada nas aspirações profundas do nosso povo."

Cerca de 60% dos 17 milhões de habitantes do Burkina Faso têm menos de 25 anos de idade e nunca conheceram um outro dirigente senão Blaise Compaoré. Para a oposição, a eventual mudança a ser introduzida na Constituição poderia garantir ao chefe de Estado mais 15 anos no poder.

Violência

Os protestos degeneraram em violência. Há registo de, pelo menos, um morto. Centenas de pessoas invadiram o Parlamento. Uma parte do edifício ficou completamente destruída por um incêndio, apesar das forças da ordem montarem um forte aparato de segurança na capital. Um outro símbolo do poder atacado foi a Radiotelevisão do Burkina (RTB), onde as centenas de pessoas que invadiram o edifício roubaram os materiais, incluindo câmaras de TV, antes de abandonarem o local.

Incidentes similares foram assinalados também no sudoeste do país, nomeadamente em Bobo Dioulasso, a segunda maior cidade do país.

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Para tentar acalmar os ânimos, o Governo de Ouagadougou anunciou ao meio do dia desta quinta-feira ter anulado a votação do projeto de revisão constitucional que desencadeou toda esta vaga de violência, tendo lançado um apelo à calma e à contenção.

Entretanto, segundo uma rádio local citada pela agência de notícias Reuters, o Presidente Compaoré declarou o estado de emergência e pediu à oposição que pare com os protestos.

Reações

Os parceiros do Burkina Faso, um país que tem um papel chave na instável região do Sahel, manifestaram-se muito preocupados com a situação e solicitaram um retorno à paz no país.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, vai enviar um emissário ao Burkina Faso para tentar pôr termo à violência. O emissário estará esta sexta-feira em Ouagadougou, integrando uma missão de paz conjunta da União Africana e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

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Fumo junto ao Parlamento do Burkina Faso - os manifestantes atearam fogo a carros estacionadosFoto: Getty Images/ AFP/ Issouf Sanogo