1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Brasil usa inteligência militar para acabar com indústria do desmatamento

17 de outubro de 2012

Força Nacional de Segurança Ambiental terá homens do Exército, Marinha e Aeronáutica. Plano é manter presença ostensiva na Amazônia e acabar com crime organizado que lucra bilhões com o desflorestamento no Brasil.

https://p.dw.com/p/16Rc5
Foto: dapd

A indústria do desmatamento da Amazônia no Brasil se aprimorou e vai muito além do corte de árvores. Criminosos utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas, que envolvem ataques virtuais a websites oficiais, operações fraudulentas e esquema de pagamento de propinas. "Estamos falando do crime organizado", resumiu Regina Miki, chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

É esse o inimigo do Estado que a Força Nacional de Segurança Ambiental combate desde o início de outubro na floresta amazônica. A nova frente criada pelo governo para conter o desmatamento ilegal conta com oficiais das Forças Armadas, da Força Nacional e da Polícia Federal e tem à disposição 18 mil homens e mulheres que podem ser convocados a qualquer momento.

"Por determinação da presidente Dilma Rousseff, nós temos que ter o menor índice de desmatamento [já registrado] até o fim de 2014. Então teremos uma ação contínua, presença massiva e não permitiremos de forma alguma o desmatamento daqui pra frente", explica Miki, questionada pela DW Brasil.

O reforço policial acompanhará fiscalizações do Ibama e tem autorização para apreender, destruir e identificar os verdadeiros proprietários de materiais que se destinem ao desmatamento – como caminhões, motosserras e outros tipos de máquinas. Regina Miki não revela detalhes sobre gastos ou efetivo. "As pessoas que estão do outro lado, os desmatadores e os criminosos, conseguiriam antever qualquer estratégia de inteligência", justifica.

Arma contra o crime organizado

O relatório Green Carbon: Black Trade, lançado em setembro em parceria entre Interpol e ONU, mostrou que o crime organizado é responsável por até 90% da extração ilegal de madeira em florestas tropicais. Os carteis atuam em países como Indonésia, República Democrática do Congo, Malásia, e Papua Nova-Guiné e mantêm atividades ilegais com mais intensidade na Amazônia. Trata-se de um negócio que movimenta até 100 bilhões de dólares por ano – aproximadamente 203 bilhões de reais.

"Não podemos ter a expectativa de promover um desenvolvimento sustentável a menos que esses carteis sejam combatidos", comentou Christian Nellemann, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em entrevista à DW Brasil. "E com o aumento do crime organizado, esse tipo de órgão [como a Força Nacional de Segurança Ambiental] será ainda mais importante."

Segundo a chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública, os criminosos têm migrado de outras atividades para o desmatamento. "Por ser mais rentável e, às vezes, menos perigoso... E eles também trabalham com inteligência. Nosso papel será asfixiar essas organizações, cortando seu fluxo financeiro", revelou.

Joint-venture criminosa

No Brasil, essa indústria ilegal milionária é formada por empresas internacionais que operam com parcerias locais. A missão da Força Nacional será desmantelar a ação de criminosos que atuam no território brasileiro. Investigar os figurões que estão no topo dessa cadeia e à frente de empresas multinacionais é tarefa da Interpol. "Esperamos usar a experiência brasileira para nos ajudar", contou Davyth Stewart, da Interpol, em entrevista à DW Brasil.

Segundo o investigador, a iniciativa brasileira é uma "ideia nova" – de reunir vários órgãos federais de segurança para conter crimes ambientais. Identificar a rede ilegal de desmatadores exige um esforço coletivo: fiscalização federal mais rígida do rendimento de empresas, controle de fronteiras e de mercadorias e modernização das leis.

Waldrodung in Brasilien
Rentabilidade do desmatamento ilegal atrai crime organizadoFoto: AP

Historicamente, o crime ambiental não é tratado com seriedade pelos governos – dificilmente, quem comete um delito é preso ou julgado com rigor. "Isso acontece porque o crime florestal é visto como um crime sem vítimas, em que ninguém é 'ferido'. Mas aos poucos as autoridades notam que o desmatamento ilegal tem várias vítimas", analisa Stewart.

Além de ameaçar a sobrevivência dos indígenas e das populações que dependem da floresta, o corte ilegal da mata provoca danos ambientais muitas vezes irreversíveis e desregula o clima. "Somos todos vítimas, coletivamente", conclui o investigador da Interpol.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França