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Brasil precisa dar resposta rápida para escândalos na Petrobras, diz ONG

Marina Estarque, de São Paulo12 de dezembro de 2014

Para Transparência Internacional, economia do país sofrerá impactos negativos caso não haja uma reação adequada. "Sob suspeita", empresas brasileiras podem ter dificuldades para fazer negócios.

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Petrobas Hauptquartier in Rio de Janeiro
Foto: Reuters/S. Moraes

O Brasil vive um momento histórico na luta contra a corrupção, considera o diretor da organização Transparência Internacional, Cobus de Swardt. Mas o país pode ter sua economia gravemente afetada caso não dê uma resposta rápida para os recentes escândalos na Petrobras, aponta.

"Os empresários e o governo devem mudar a forma como se fazem negócios no Brasil. Se não agarrarem a oportunidade de fazer essa limpeza, a economia brasileira vai sofrer muito nos próximos anos", disse o diretor nesta quinta-feira (11/12), numa coletiva de imprensa da ONG em São Paulo.

Segundo De Swardt, as empresas brasileiras terão dificuldades para fazer negócios no exterior, caso permaneçam "sob suspeita".

Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lançado em dezembro, indica que os casos de corrupção levam em média sete anos para serem concluídos. Em 1999, demoravam apenas dois anos.

De Swardt afirma que agora a rapidez será crucial no Brasil. "Se o caso da Petrobras se alongar por sete anos, será um desastre para a economia. Além disso, há um risco real de que a impaciência da população brasileira chegue a um limite. O que seria muito difícil de reverter."

Ele diz que o país precisa mostrar que está atacando o problema corretamente, com medidas imediatas e reformas a médio prazo. Também ressalta a importância da punição dos envolvidos, tanto indivíduos, quanto empresas.

"Eu não concordo com esse argumento de que responsabilizar as companhias destruiria a economia, o erro seria não lidar com o assunto", opina. O diretor acredita que a Petrobras também precisa implementar reformas para conseguir superar a crise ou corre o risco de quebrar.

Para De Swardt, a situação econômica desfavorável, com o crescimento do PIB próximo de zero, e os protestos nas ruas constituem "as condições ideais para a mudança".

"Na Europa, ninguém se importava com a evasão de impostos. Com a crise econômica, eles passaram a rastrear os dados e intensificar o controle", afirma. "Você nunca consegue reformas políticas em momentos em que tudo vai bem, é necessário pressão."

Atualmente, o Brasil está em 69ª lugar entre 175 países no Índice de Percepção da Corrupção, ranking da Transparência Internacional.

Empresas Offshore

A ONG aproveitou a semana em que se celebra o Dia Internacional Anticorrupção para divulgar a campanha global "Desmascare o corrupto". Entre outros objetivos, a iniciativa alerta para os perigos das empresas offshore, de propriedade secreta, comumente usadas para lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Essas empresas, muitas vezes fantasmas, podem ser criadas facilmente à distância, pela internet. Normalmente localizadas em paraísos fiscais, as empresas são abertas em apenas três dias, incluindo contas bancárias, com total confidencialidade.

Para isso, segundo a ONG, basta enviar a cópia de um passaporte, uma conta de luz ou eletricidade, por exemplo, e o pagamento de cerca de 1.500 euros pelo cartão de crédito. A operação é feita em minutos.

"Isso ocorreu também no caso da Petrobras. Por isso, nenhuma empresa deveria poder ter um contrato com o governo sem que todos os seus donos e beneficiários sejam públicos", diz De Swardt. "No Brasil, é comum uma empresa nacional assinar o contrato, mas ter como parceira uma entidade estrangeira desconhecida."

Segundo um estudo da Global Financial Integrity (GFI), o Brasil perdeu 33,7 bilhões de dólares por ano em fluxos ilícitos para fora do país, no período de 2010 a 2012. O valor equivale a 1,5% do PIB.

"Pense em investir esse dinheiro em comunidades pobres, em desenvolvimento. Só o que o Brasil perde em corrupção já seria suficiente para alavancar o crescimento do país", aponta De Swardt.