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História da América Latina na perspectiva global

Clarissa Neher8 de setembro de 2014

Congresso aborda temas latino-americanos dentro do enfoque da chamada história global. Brasil e México são países da região com o maior número de representantes.

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Homem em trajes típicos dos astecas diante da pirâmide de Kukulkan, no MéxicoFoto: Reuters

A chamada história global, ou seja, a abordagem de temas locais numa perspectiva que vai além das fronteiras nacionais, vem ganhado destaque nos últimos anos, mas ainda é pouca empregada para analisar a história da América Latina. Um congresso que começa nesta terça-feira (09/09) em Berlim tenta mudar isso.

Essa abordagem procura compreender os acontecimentos históricos não somente dentro de um contexto local e isolado, mas relacionando-os com o que estava acontecendo no mundo, apresentando, assim, relações entre os fatos locais e as dinâmicas globais.

Essa perspectiva vem sendo empregada por historiadores norte-americanos e britânicos desde os anos 1990 e há cerca de dez anos ganhou espaço nos países europeus. Apesar disso, segundo o historiador Stefan Rinke, da Universidade Livre de Berlim, essa forma de analisar os acontecimentos ainda não é muito conhecida e utilizada por pesquisadores latino-americanistas.

"O congresso em Berlim vai pela primeira fez focar no tema história da América Latina num contexto global. Com a palavra-chave 'entre espaços', nós queremos estimular historiadores latino-americanistas a se interessar por essa nova abordagem historiográfica, que até agora não desempenhou um grande papel na América Latina", afirma Rinke, que está organizando o evento.

Com o título "Entre espaços: a história latino-americana em contexto global", o evento terá mais de cem simpósios sobre diversos temas, começando no período colonial, passando pelos processos de independência até chegar aos movimentos populistas atuais e a crise financeira de 2008.

Durante cinco dias, mais de 850 historiadores estarão reunidos no 17° congresso internacional da Associação de Historiadores Latino-Americanistas Europeus (Ahila), que acontece de três em três anos. "O congresso é o momento para historiadores trocarem ideias, perspectivas e repensar aspectos da história da América Latina", afirma Marianne Wiesebron, presidente da Ahila e historiadora da Universidade de Leiden, nos Países Baixos.

De colônias a parceiros da China

Durante o congresso, a perspectiva global será usada para analisar a escravidão, revoluções, políticas sociais, direitos humanos, crises ambientais, democracia, violência, corrupção, religião, educação, economia, imprensa e também a culinária.

Os temas de maior presença no evento são migração, identidade e gênero, circulação de saberes, história da ciência e da medicina e a própria historiografia. Além disso, há também tópicos novos, como as relações latino-americanas com a China e a Guerra Fria na América Latina.

Segundo Rinke, muitos temas ainda estão "subtrabalhados" na história latino-americana e precisam de mais espaço. Mas já é possível perceber uma mudança em relação às décadas de 1970 até 1990, quando havia a predominância da história social.

Pela primeira vez, o congresso da associação fundada na década de 1970, com o objetivo de ser uma ponte para intercâmbio de pesquisas realizadas por historiadores latino-americanistas da Europa ocidental e oriental, receberá representantes de todos os continentes.

Brasil e México

Historiadores de todos os países da América Latina estarão participando do evento. Entre os latino-americanos, Brasil e México são os países com o maior número de participantes. "Percebe-se que nesses países a disciplina de história é forte e a economia vai relativamente bem, pois há recursos financeiros para pesquisadores poderem viajar e fazer contatos internacionais", comenta Rinke.

Segundo ele, não existe mais um país latino-americano que seja o favorito de pesquisadores, como era antigamente o México. "O que se observa é, de um lado, a existência de países que recebem pouca atenção da mídia e não são bem representados na história, como Equador, Paraguai e Bolívia, e, de outro lado, países muito pesquisados e com muita representação, como México, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru", diz Rinke.

Já para Wiesebron, um país que vem ganhando bastante destaque nos últimos anos nesse cenário é o Brasil. "O interesse pelos estudos brasileiros de modo geral, não somente na história, está aumentando", diz.

O congresso é realizado no campus da Universidade Livre de Berlim e prossegue até 13 de setembro. Os simpósios serão realizados em espanhol e português.