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Avanço do "Estado Islâmico" aproxima Rússia e Ocidente

Roman Goncharenko (msb)28 de setembro de 2014

Apesar de os russos não integrarem a coalizão militar formada pelos americanos para lutar contra os jihadistas, Rússia e EUA estão do mesmo lado nas operações em solo iraquiano. Divergências mesmo só no caso da Síria.

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Secretário americano de Estado, John Kerry, e ministro russo do Exterior, Serguei LavrovFoto: Reuters

À primeira vista, tudo está como era antes. A televisão estatal russa continua não deixando escapar nenhuma oportunidade de criticar o Ocidente. Na quinta-feira passada, a apresentadora de um programa de notícias citou parte da fala do presidente iraniano, Hasan Rohani, durante a Assembleia Geral da ONU. O trecho afirmava que o fortalecimento da milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI) no Iraque e na Síria era resultado de um "erro estratégico dos países ocidentais".

As alfinetadas diretas também continuam. "Parece-me estranho que o presidente dos EUA tenha dito várias vezes que o mundo ficou mais livre e mais seguro", comentou o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, ironizando o discurso de Barack Obama no encontro das Nações Unidas, em Nova York. O chanceler disse que chegou a se perguntar se o americano realmente estava falando sério.

Lavrov ficou indignado por Obama ter se referido a violações da lei internacional por parte da Rússia, na crise da Ucrânia, como segunda maior ameaça à paz mundial nos dias atuais, atrás apenas da epidemia do ebola – e à frente até do terrorismo islâmico.

UN Sicherheitsrat 24.09.2014
Em reunião do Conselho de Segurança presidida por Obama, russos apoiaram resolução contra jihadistasFoto: Reuters/Brendan McDermid

Aviões russos no Iraque

O caso da Ucrânia continua desgastando as relações entre a Rússia e o Ocidente, mas a luta contra os terroristas do EI no Oriente Médio parece estar aproximando Moscou e os países ocidentais como há meses não se via. Na quarta-feira passada, a Rússia aprovou, juntamente com os outros países do Conselho de Segurança da ONU, uma resolução apresentada pelos Estados Unidos contra o grupo radical islâmico. Todos os países-membros estão agora incumbidos de impedir que os extremistas recebam qualquer tipo de ajuda.

O Kremlin assumiu uma posição neutra em relação à coalizão formada e coordenada pelos Estados Unidos contra o EI – os russos, porém, não querem fazer parte dela. "A coalizão anti-EI não é uma festa. Não esperamos receber convite e não vamos comprar ingresso para entrar", afirmou um representante do Ministério do Exterior à agência de notícias Interfax. Ele garantiu, no entanto, que a Rússia apoia os países que lutam contra o grupo terrorista.

Isso significa principalmente apoio militar ao Iraque. No meio do ano, a Rússia entregou uma dúzia de aviões de guerra do tipo Sukhoi Su-25 e um número não revelado de helicópteros militares Mi-28 ao governo em Bagdá, segundo informações divulgadas pela imprensa.

Em julho, Rússia e Iraque assinaram um outro contrato milionário para entrega de lançadores múltiplos de mísseis do tipo Grad, obuses (peça de artilharia) e outros equipamentos de guerra. "Mesmo sem qualquer coalizão, nós já ajudávamos há tempos o Iraque, a Síria e outros países da região na luta contra esse mal", frisou Lavrov, referindo-se ao "Estado Islâmico".

Preocupação com a Síria

Mas, se no caso do Iraque, Rússia e Ocidente estão, na prática, do mesmo lado, a tensão se torna evidente quando o assunto é a Síria. Moscou observa com olhar crítico os recentes ataques das Forças Armadas americanas e suas aliadas árabes contra áreas ocupadas pelos terroristas do EI na Síria.

Os russos exigem que os ataques somente ocorram com autorização do governo em Damasco. Mas os EUA rejeitam a ideia. Washington não reconhece mais a legitimidade do regime do presidente Bashar al-Assad devido à violenta repressão da oposição.

US Angriffe auf IS Stellungen in Syrien 23.09.2014
Há dias, EUA e aliados atacam áreas ocupadas pelos radicais islâmicos na Síria e no IraqueFoto: Reuters/Shawn Nickel/U.S. Air Force

A Síria é aliada próxima da Rússia desde os tempos da União Soviética. A proximidade vem garantindo o apoio de Moscou a Damasco desde o início da guerra civil em território sírio, em março de 2011, e evitou que o Conselho de Segurança aprovasse resoluções duras contra o país.

Há cerca de um ano, o Kremlin convenceu o governo sírio a entregar suas armas químicas para serem destruídas – evitando, na época, ataques aéreos americanos contra as tropas leais a Damasco. Agora, Moscou teme que os EUA ataquem não apenas os combatentes terroristas do EI, mas também os soldados sírios.

A Rússia acusa Washington de aplicar dois pesos e duas medidas com relação à Síria e vê agora justificada sua posição com relação ao país. "Quando pedimos ajuda para a Síria no combate aos terroristas, não nos ouviram", reclamou Lavrov.

EI é ameaça para Putin

O apoio indireto da Rússia à luta contra os terroristas do "Estado Islâmico" é, na verdade, uma medida de autoproteção. Há poucas semanas, as milícias terroristas fizeram ameaças ao presidente russo, Vladimir Putin. Num vídeo divulgado na internet, elas afirmam que vão "libertar" o Cáucaso Norte da Rússia.

"As ameaças de ataques terroristas no Cáucaso deveriam ser levadas a sério", declarou Michael Margelov, presidente do comitê de relações exteriores do Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento russo).

Especialistas em segurança acreditam tanto na existência de jihadistas russos na Síria quanto na de ativistas do EI na Rússia. Mas números exatos são desconhecidos. No início de setembro, um suposto integrante do EI foi preso em Moscou, e páginas na internet de integrantes do grupo terrorista são frequentemente bloqueadas na Rússia.