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Ataques a escolas e alto número de vítimas civis elevam críticas a Israel

Nils Naumann (md)1 de agosto de 2014

ONU e até Estados Unidos criticam bombardeio de escola e mortes de palestinos inocentes. Israel dá sinais de recuo, mas tentativa de trégua falha em poucas horas.

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Foto: picture-alliance/dpa

Um mercado devastado, cadáveres espalhados pelo chão, pessoas que choram por seus parentes mortos: essas imagens da Faixa de Gaza colocaram Israel na defensiva diante da opinião internacional.

Após o bombardeio de um mercado e de uma escola da ONU nesta semana, que causaram a morte de mais de 40 civis, a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, acusou Israel de "desrespeito intencional" do direito internacional. Segundo ela, há um padrão de ataque a "casas, escolas, hospitais e instalações da ONU" na Faixa de Gaza. "Nada disso me parece ser por acaso."

Jan Eliasson, secretário-geral adjunto das Nações Unidas, pediu o fim da violência. "Chegamos a um ponto em que é preciso dar um basta", disse. As 1,8 milhão de pessoas da região não têm chance alguma de escapar dos ataques, considera.

O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dá sinais de reagir às crescentes críticas internacionais. A partir da manhã desta sexta-feira (01/08), as armas deveriam calar-se por 72 horas. Ao mesmo tempo, representantes de Israel e dos palestinos negociariam no Cairo um cessar-fogo mais prolongado. Entretanto, os ataques foram retomados poucas horas depois do início da trégua, que havia sido aceita tanto por Israel quanto pelo grupo radical islâmico Hamas.

Críticas de Washington

Uma razão importante para o aparente recuo de Israel pode muito bem ter sido seu aliado mais importante, os Estados Unidos. Pela primeira vez, Washington criticou publicamente a ação militar e condenou o bombardeio da escola da ONU. Um porta-voz do governo americano afirmou que "dezenas de palestinos inocentes" foram mortos, incluindo crianças e ajudantes humanitários.

Antes disso, a relação entre o governo israelense e o governo Obama já estava tensa. Quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, esteve na região no final da semana passada, a fim de mediar a disputa, chegou num momento relativamente inconveniente para a liderança de Israel. Os militares israelenses ainda não queriam encerrar as operações realizadas em Gaza contra o Hamas.

O plano de Kerry para um acordo de cessar-fogo foi criticado duramente pela imprensa israelense, que o classificou como "pró-Hamas". "Kerry tem estado frequentemente do lado do eixo islâmico do mal", acusou uma integrante do partido populista Ha Bayit Hajehudi (que significa casa judaica), legenda que integra a coalizão israelense de governo.

Washington reagiu com irritação. "Do nosso ponto de vista, isso simplesmente não é o modo como parceiros e aliados devem lidar uns com os outros", disse Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado.

Até agora, os Estados Unidos sempre estiveram do lado de Israel. No Conselho de Segurança da ONU, impediram com seu veto uma condenação ao Estado judeu. Ao mesmo tempo, os EUA são o principal fornecedor de armas do país.

A cada ano, o governo dos EUA coloca entre 2 bilhões e 2,5 bilhões de dólares à disposição de Israel para a compra de armas, de acordo com Pieter Wezeman, especialista em armas do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri). Um corte nessa ajuda realmente atingiria Israel sensivelmente. Assim, os EUA poderiam fazer pressão, observa Wezeman. No entanto, a influência do lobby pró-Israel em Washington é grande, e também a opinião pública nos EUA está do lado de Israel.

Críticas internas

Por isso, não surpreendeu que ninguém tenha dado ouvidos ao apelo da organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional por um embargo de armas às partes envolvidas no conflito. Apenas algumas horas após o bombardeio da escola da ONU, um novo carregamento de munição partia dos Estados Unidos para o Exército israelense. John Kirby, porta-voz do Pentágono, afirmou ser "fundamental para os interesses nacionais dos Estados Unidos ajudar Israel a manter sua capacidade de autodefesa forte e reativa".

"Só mesmo membros do governo de Israel podem amaldiçoar o presidente dos EUA, ridicularizar o secretário de Estado americano e pedir, ao mesmo tempo, mais 250 milhões de dólares para o seu sistema de defesa antimísseis", assim descreveu o jornalista israelense Zion Nanou a relação americano-israelense.

Recentemente, as críticas também cresceram dentro de Israel. "Esta guerra tem que acabar", escreveu, por exemplo, o ex-embaixador israelense na Alemanha, Shimon Stein, num artigo para o jornal Süddeutsche Zeitung. "Esta guerra não é do interesse de Israel. Israel só vai ganhar segurança se abrir uma nova e positiva perspectiva para o futuro para os palestinos na Faixa de Gaza, através de ajuda humanitária e econômica. Continuar a agir como vem fazendo seria um erro estratégico."