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Argentina é esperança para milhares de espanhóis em fuga da crise

24 de novembro de 2012

Metade da mão de obra espanhola entre 20 e 35 anos está desempregada. Além dos vizinhos europeus, América Latina é esperança para os que tentam escapar da crise econômica – com preferência pela Argentina.

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Foto: Fotolia/JOETEX1

Enquanto na Europa o outono se apresenta cada vez mais frio e hostil, a primavera está apenas começando na capital argentina. No parque municipal Bosque de Palermo, onde os jacarandás florescem em tons de lilás, os praticantes de jogging, ciclistas e skatistas dão sua voltinha da noite.

Também Sebastián Monteoliva vem aqui após o trabalho, para relaxar. "Buenos Aires é um gigantesco deserto de cimento. Só tem poucas praças públicas e áreas verdes. É do que eu mais sinto falta, em relação à Espanha."

A crise no país europeu impeliu à América do Sul o galego de 31 anos de idade. Mais de meio milhão de espanhóis já voltaram as costas para sua pátria e, ao lado dos países vizinhos europeus, para muitos a opção é a América Latina.

O total dos que emigraram para a região em 2011 foi de cerca de 370 mil: dez vezes mais do que em 2008. Segundo a agência internacional de trabalho Adecco, somente nos últimos dois anos mais de 30 mil pessoas partiram da Espanha para tentar a vida na Argentina.

Triste recorde

"Sou um típico representante da geração da crise", se autodefine Sebastián. Aos 17 anos, ele interrompeu os estudos para entrar no mercado de trabalho. "Devido ao boom imobiliário, havia empregos bem pagos no setor de construções. Mais tarde mudei-me para Barcelona, trabalhei no porto e em lojas de roupas, sempre havia alguma coisa."

Mas a situação mudou: atualmente, o desemprego atinge um triste recorde na Espanha. Os mais afetados são os trabalhadores entre 20 e 35 anos de idade, como Sebastián: dentre eles, 50% encontram-se hoje sem ocupação.

"Ainda por cima, a previdência social está sendo cortada. Antes que ficasse totalmente desesperado, resolvi ir para a Argentina." Ele teve sorte – e parentes no país, que o ajudaram com os contatos. Agora o espanhol trabalha para a municipalidade da capital na organização de festivais, inclusive com contrato fixo.

No entanto, dos 4 mil pesos (cerca de 650 euros) que recebe, nada lhe sobra no fim do mês. Pois a vida em Buenos Aires não é muito mais barata do que na Espanha. "Emigrar para cá foi um risco, é claro. A passagem de avião, em si, já foi um investimento", comenta Sebastián Monteoliva.

Ira popular durante greve geral na Espanha, em novembro de 2012
Ira popular durante greve geral na Espanha, em novembro de 2012Foto: picture-alliance/dpa

Bônus como europeu

Ainda assim, dispondo de uma comunidade espanhola tradicionalmente forte, a Argentina é considerada especialmente atraente para os novos imigrantes à procura de trabalho. Isso, embora dez anos atrás o país tenha atravessado uma séria crise econômica que levou dezenas de milhares a optarem pela Europa.

Assim – embora uma parte dos 30 mil espanhóis que nos últimos dois anos vieram para o Rio de la Plata sejam argentinos de dupla nacionalidade que agora voltam à casa – pode-se falar de uma inversão da tendência migratória.

Obter um visto de trabalho na Argentina é mais fácil do que, por exemplo, no Chile e, sobretudo para a mão de obra altamente qualificada, há grande demanda e uso: acadêmicos, cientistas, engenheiros, profissionais médicos gozam de boa reputação na região – assim como os espanhóis e os europeus em geral.

Porém, no tocante aos salários, a América Latina não tem como competir com outros destinos migratórios, como a Alemanha ou o Reino Unido. O também imigrante Enrique "Kike" Gómez ilustra esse dado com uma história pessoal: "Um amigo meu, que trabalha como programador, tinha recebido uma oferta profissional interessante em Buenos Aires. Mais seu salário não lhe permitiria pôr nenhuma reserva de lado. Ele tem dívidas na Espanha, precisa saldar a hipoteca de um apartamento. Por isso acabou indo para Londres".

Hora de ruptura

Kike, de 30 anos, trabalhava como diretor de teatro na Espanha, até com certo sucesso. Apesar disso, trocou seu país pela Argentina dois anos atrás, para trabalhar em produções independentes. Ele decidiu colocar o desenvolvimento pessoal em primeiro plano.

"A famosa alegria de viver dos espanhóis se foi, o que se sente é uma depressão, uma falta de motivação, isso me puxava cada vez mais para baixo." Na Europa, só há futuro na Alemanha ou na Grã-Bretanha, irrita-se Kike. Para esses dois, todos os demais países estão perdendo sua mão de obra jovem e qualificada.

Kike Gómez optou pela Argentina e o desenvolvimento pessoal
Kike Gómez optou pela Argentina e o desenvolvimento pessoalFoto: Gianni Mestichelli

"Simplesmente não me identifico com isso em que a Europa se transformou, tudo só gira em torno da economia. Mas a Espanha nunca vai poder competir com a Alemanha. Acho que muita gente está farta de tudo isso, e quer uma ruptura radical."

Diversos governos da América do Sul, de fato, se orientam atualmente no sentido de uma economia de cunho social – algo que durante anos caracterizou a Europa. Mesmo assim, quando perceber novamente uma perspectiva para si, um dia Kike Gómez quer voltar à Espanha.

E Sebastián Monteoliva? Equilibrado sobre o skate, ele dá uma volta sob os jacarandás do parque municipal de Buenos Aires. E só pensa em retornar a La Rambla de Barcelona quando o inverno tiver passado. "Mas, pelo andar da carruagem, isso ainda vai levar um bom tempo."

Autoria: Anne Herrberg (av)
Revisão: Carlos Albuquerque