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Angola sem chances de representar África permanentemente na ONU, dizem analistas

Maria João Pinto6 de outubro de 2014

Especialistas acreditam que Angola volte a ocupar uma cadeira de membro não permanente do Conselho de Segurança, mas excluem a possibilidade de o país representar África definitivamente no órgão da ONU.

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Foto: Reuters

A 16 de outubro, a candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no período 2015-2016, será votada pelos membros da ONU, em Nova Iorque.

Para ser eleito, o país precisa de 2/3 dos votos dos 193 membros da organização. Vários analistas consideram que o objectivo é realista, depois de muitos esforços para melhorar a imagem do país como uma potência influente no plano regional e internacional.

Bom momento para reeleição

Angola - Vize-Präsident Manuel Vicente
O vice-Presidente, Manuel Vicente (foto), representou Angola em recente Assembleia-Geral da ONU em Nova IorqueFoto: Getty Images

Caso seja eleita, esta não será a primeira vez que Angola se senta à mesa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em 2003, apenas um ano depois do fim da guerra civil, o país lusófono era eleito para votar questões de segurança internacional, ao lado dos restantes membros da organização.

Na altura, o país não estava preparado para essa tarefa, em termos de política externa e imagem governamental, diz Paula Cristina Roque, doutoranda do departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford.

Para a investigadora, agora o país está numa boa posição para ser reeleito, uma vez que "o governo do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] tem vindo a fazer grandes esforços para melhorar a sua imagem externa."

A analista acrescenta que também o "enorme" esforço que o país tem feito, em termos regionais, também contribui. "Com essa postura e visto que o continente está a ter problemas – e, neste caso, com a segurança internacional a preocupar o Conselho de Segurança com relação ao extremismo islamita etc. Acho que Angola tem o perfil de conseguir entrar no Conselho de Segurança," avalia.

Para muitos, a própria candidatura a membro não permanente do órgão da ONU deu um impulso aos esforços angolanos para estabelecer uma posição influente no continente africano e no palco internacional.

Jon Schubert é doutor em Estudos Africanos pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. O especialista, que viveu 10 anos em Luanda, partilha desta opinião e acredita que Angola tem grandes possibilidades de ser eleita no dia 16 de outubro.

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Académico Jon Schubert acredita que Angola tem grandes possibilidades de ser reeleita como membro não permanente do Conselho de SegurançaFoto: DW/R. Krieger

"Acho que essa candidatura seria o culminar de um processo de estabelecer Angola como uma potência regional. Angola tem esse papel a jogar," diz.

"Mas isso não descarta questões, pelo menos abertas ainda, a nível da governação interna, segurança e dos direitos humanos dentro de Angola. E acredito que, dando a Angola este espaço dentro do Conselho de Segurança, vai acrescentar ainda na legitimidade e à reputação de Angola," pondera.

Influência sem coerência

Apesar de reconhecer uma influência cada vez maior de Angola no continente africano, Jon Schubert frisa que nem tudo funciona na perfeição neste âmbito. Na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês), lembra o investigador, o país assinou o acordo para o mercado livre mas tem vindo a atrasar a sua implementação.

Na Conferência dos Grandes Lagos, a que Angola preside actualmente, propôs-se eliminar os grupos armados no leste da República Democrática do Congo, o que ainda não aconteceu. Recentemente, prometeu enviar tropas para a República Centro-Africana. Mas há dúvidas sobre uma ação.

Jon Schubert
Segundo académico Jon Schubert, na Conferência dos Grandes Lagos, poucas promessas angolanas são posteriormente concretizadasFoto: Jon Schubert

"Vamos ver se isso se materializa, depois da votação, ou não," questiona o investigador que considera a atuação angolana como ambivalente. "Falam uma linguagem que é de desempenho, de construção de paz, mas que é, mais ou menos, para 'inglês ver'. Mas, na prática, há muito pouco que depois se concretiza," explica Schubert.

O país já tem o apoio de vários países da Europa, África, Ásia e América, para além de organizações como a União Africana (UA) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Um ponto fundamental, para a investigadora Paula Cristina Roque, está numa renovação da imagem do país.

"São parcerias a níveis muito importantes bilaterais, que eu acho que Angola já está há muito tempo a tentar renovar: o relacionamento que tem andado um tanto complicado com Washington; já tem relacionamentos muito positivos com Pequim e com Moscovo; e acho que é de tentar cimentar também a posição que poderá, mais tarde, também com a Nigéria e com a África do Sul, numa reforma do Conselho de Segurança, tentar ser o país que fica a representar África," considera.

Sobra ambição, faltam avanços internos

Angola USA Außenminister John Kerry in Luanda
Para a investigadora Paula Cristina Roque, Angola vem investindo na renovação de parcerias bilaterais, com Washington, por exemplo. Na foto, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em visita a Luanda em maio deste ano.Foto: Reuters

Recentemente, o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, defendeu na Assembleia-Geral das Nações Unidas que o Conselho de Segurança deve alargar o número de representantes permanentes para incluir um país africano. Mas a investigadora não acredita que o lugar esteja reservado para Angola.

"Ambição tem. Fortes possibilidades não," afirma, acrescentando acreditar que "têm, mais facilmente, a África do Sul, a Nigéria e a Etiópia, do que uma Angola que ainda tem muito para provar a nível multilateral, não só dentro da África, mas mundialmente."

Uma opinião reforçada pelo analista Jon Schubert, que considera que a inclusão de Angola como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, "seria um reconhecimento internacional bastante problemático, porque, na verdade, se falamos com pessoas que vivem em Angola, ainda há muito para fazer."

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