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Algoz do EI é guiado por procura de identidade, diz analista

Sarah Berning (ca)27 de fevereiro de 2015

Carrasco dos vídeos do "Estado Islâmico" foi identificado como britânico de classe média. Seu histórico desfaz o mito de que somente imigrantes pobres são atraídos pelo extremismo, afirma o especialista Paul Beaver.

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Cena de vídeo mostra "Jihad John", identificado como Mohammed EmwaziFoto: Reuters//SITE Intel Group

O extremista encapuzado que aparece em vídeos de decapitação de reféns ocidentais do movimento "Estado Islâmico" (EI), apelidado de "Jihadi John", é britânico, cresceu em Londres e se chama Mohammed Emwazi.

A revelação foi de encontro à ideia, defendida por muitos, de que apenas jovens de classes mais baixas estão suscetíveis à radicalização. Para o britânico Paul Beaver, especialista em terrorismo, trata-se mais de uma procura por uma identidade.

"O fato de terroristas de classe média existirem dissipa um pouco a ideia de que isso seria uma reação a condições precárias de moradia, falta de oportunidades de emprego e necessidade de um trabalho", afirma, em entrevista à DW.

Deutsche Welle: As autoridades disseram ter usado tecnologia de reconhecimento de voz e de face para identificar Mohammed Emwazi como o londrino "Jihad John". Até que ponto tais métodos são confiáveis?

Paul Beaver: A tecnologia moderna, usando supercomputadores e reconhecimento de voz, progrediu bastante desde o ano 2000, impulsionada pela necessidade de identificar os líderes da Al Qaeda. O reconhecimento facial está agora tão avançado que um computador analisando 10% a 20% do rosto de uma pessoa pode levar à identificação. A Força de Defesa de Israel já possui essa tecnologia desde 2007.

E-mails de Mohammed indicam que ele pode ter se radicalizado após ser detido por autoridades britânicas num aeroporto, sob a acusação de ter ligações com organizações terroristas. Existe algum risco de que as operações de contraespionagem no Ocidente possam estar contribuindo para a radicalização de alguns indivíduos?

Isso não faz o menor sentido. Trata-se de uma desculpa. Em 20 anos de luta contra as operações do IRA [Exército Republicano Irlandês], não me lembro de ninguém ter dito que se radicalizou como terrorista nacionalista irlandês por conta das atividades dos serviços de segurança. Emwazi deve ter uma personalidade fraca para ter se radicalizado dessa forma, mas muitos serviços de segurança devem levar essa teoria em consideração.

Paul Beaver
Paul Beaver diz ser uma "triste reflexão" o reconhecimento da radicalização de muçulmanos "quase tarde demais"Foto: Privat

O problema no Reino Unido e no resto da Europa é que esses indivíduos e grupos estão dispostos a culpar uma provocação, por menor que seja, para que tenham uma desculpa para se radicalizar. E eles são encorajados a se radicalizar.

Ainda que Mohammed Emwazi tenha um histórico de classe média e um diploma universitário em Informática, pessoas bem-educadas e abastadas estão tão propensas a se radicalizar quanto as menos privilegiadas?

Emwazi era privilegiado. Origem kuwaitiana significava dinheiro de família, boa escola e educação superior. O risco de que qualquer muçulmano possa ser seduzido por imãs radicais é real. O Reino Unido permitiu a entrada de muitos de Somália, Arábia Saudita e Egito, no período entre 1997 e 2010, porque a população muçulmana havia crescido e não havia imãs domésticos para atender às necessidades pastorais.

Esses clérigos foram autorizados a entrar sem que os seus antecedentes tivessem sido verificados apropriadamente. O fato de terroristas de classe média existirem dissipa um pouco a ideia de que isso seria uma reação a condições precárias de moradia, falta de oportunidades de emprego e necessidade de um trabalho. Parece antes ser a necessidade de uma identidade.

Presume-se que 700 combatentes britânicos estejam lutando ao lado do "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque. Deixando de lado a sofisticação das estratégias de propaganda do grupo, o que está levando as pessoas a sacrificar suas vidas por uma causa tão longe de casa?

De acordo com estimativas do atual governo britânico, 1.200 mulheres e homens radicalizados estão lutando junto ao "Estado Islâmico" e grupos do oeste africano. O próprio legado de Emwazi parece vir de grupos extremistas da Somália, o que é muito atraente para uma juventude muçulmana à procura de identidade num mundo moderno e tão diferente dos ensinamentos pré-medievais de seus imãs.

Muitos não pensam que vão sacrificar suas vidas e, se o fizerem, se tornarão mártires. É uma triste reflexão sobre a minha geração na Europa o fato de não compreendermos os riscos e não encontrarmos uma estratégia preventiva adequada.

Uma polarização de sistemas de valores parece estar acontecendo nas sociedades ocidentais, com o extremismo islâmico, de um lado, e fundamentalistas de extrema direita, do outro. Até onde isso vai antes de começar a mudar? O que será necessário para dar a virada?

Eu não sou nada otimista. Se reagirmos com a força, estaremos jogando com as armas dos islamistas; se não reagirmos assim, teremos mais terrorismo. Os terroristas irlandeses nunca estiveram dispostos a sacrificar suas vidas pela "causa", mas o "Estado Islâmico" e Al Qaeda parecem estar prontos a morrer por isso.

O que preocupa o Reino Unido é o fato de meninas estarem sendo atraídas pelo "Estado Islâmico", quando é notório o fato de mulheres serem subjugadas. Mais esforços são necessários para a prevenção, e o establishment islâmico precisa ser reformado – no século 15, a Europa era como o islã radical até que clérigos reformassem o pensamento que levou à Inquisição Espanhola e às punições cruéis e incomuns.