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Procura-se mão-de-obra

Sabina Casagrande (jc)2 de agosto de 2007

A falta de mão-de-obra qualificada pode ser um problema para a Alemanha nos próximos anos. Candidatos dos novos países da UE poderiam preencher essa lacuna, mas a idéia ainda não encontra consenso no país.

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A Alemanha precisa de mais mão-de-obra especializada – mas de onde ela deve vir?Foto: picture-alliance/dpa

O mais recente levantamento mostrou que o número de desempregados na Alemanha era de 3,7 milhões de pessoas, em julho de 2007. No entanto, companhias vêm se queixando há meses de que não conseguem encontrar mão-de-obra especializada em quantidade suficiente, sobretudo em setores técnicos e áreas de engenharia.

Diante deste panorama, o Ministério do Trabalho sugeriu diminuir as restrições para empregar pessoas dos novos países-membros da EU. No entanto, políticos, sindicatos e empresários ainda têm opiniões divergentes sobre a idéia.

Líder da União Democrata Cristã (CDU) no Parlamento, Volker Kauder é um dos que se colocam contra a proposta. Para ele, antes de promover a vinda de mão-de-obra do exterior, as possibilidades devem ser esgotadas internamente.

"Tal medida transmitiria o sinal errado", disse ele nesta semana ao jornal popular Bild. "Você não pode, por um lado, reclamar do dumping salarial e, paralelamente, trazer trabalhadores da Romênia e da Bulgária para a Alemanha, que estão dispostos a trabalhar por salários mais baixos."

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Uma agência de trabalho alemã: número de desempregados no país era de 3,7 milhões em julhoFoto: AP

A liberdade de movimento no mercado de trabalho é um dos direitos fundamentais garantidos aos cidadãos da UE. Um alemão que queira trabalhar na França não precisa enfrentar nenhum entrave burocrático. O mesmo, no entanto, não vale ainda para os países que ingressaram no bloco recentemente.

O tratado de adesão estipulou medidas de transição para proteger os mercados de trabalho de cada país. A Alemanha, porém, é uma das poucas nações da UE que de fato obriga os cidadãos dos novos países do bloco a pedirem vistos de trabalho. O país justifica a restrição com base no problema de desemprego e no fato de estar tão perto geograficamente dos novos países-membros.

Sindicatos são contra reduzir restrições

Por enquanto, tal protecionismo ao mercado de trabalho alemão se aplica até 2009. Kauder sugere que o prazo seja prorrogado até 2011. Mais do que isso não seria possível, já que 2011 seria o máximo admitido pelo regulamento da UE.

CDU - Volker Kauder
Líder da União Democrata Cristã (CDU) no Parlamento, Volker Kauder é contra abrir o mercado de trabalhoFoto: dpa-Report

Surpreendentemente, Kauder recebeu apoio dos sindicatos alemães, que não costumam se aliar à conservadora CDU. Porta-voz da Confederação Alemã dos Sindicatos (DGB), Axel Brower-Rabinowitsch disse que abrir o mercado de trabalho não ajudaria a aliviar o desemprego na Alemanha.

"Nossa principal preocupação, no momento, é que a situação no mercado de trabalho alemão não está boa", diz ele. Os números do desemprego indicam que há "um número considerável de pessoas" que poderiam estar empregadas se tivessem a devida qualificação ou treinamento complementar.

"Essa situação não é motivo para a Alemanha buscar pessoal especializado fora do país", acredita Brower-Rabinowitsch, apontando que mais de 200 mil pessoas estão há mais de um ano aguardando posições de aprendizagem e treinamento.

"Nós não podemos tirar da indústria a responsabilidade de treinar mão-de-obra. Isso é seu dever", considera. Segundo ele, toda vez que houve crescimento econômico na Alemanha, o setor privado reclamou de falta de mão-de-obra qualificada. "Mas sempre negligenciaram treinar pessoas a tempo."

Parceiro da CDU na grande coalizão do governo Merkel, o Partido Social Democrata (SPD) também considera que, antes de trazer gente de fora, o setor privado deve fazer o máximo para alocar os desempregados da Alemanha.

"Só quando a indústria provar que está dando uma chance justa para desempregados, com auxílio de políticas trabalhistas, é que ela pode esperar compreensão dos poderes políticos", diz Ludwig Stiegler, responsável pelos setores de economia e trabalho na bancada do SPD no Parlamento.

Economicamente, imigração é necessária

O empresariado alemão é favorável à idéia de antecipar a abertura do mercado de trabalho ao Leste Europeu. O analista Holger Schäfer, do Instituto de Pesquisas Econômicas (IW) de Colônia, diz que uma estratégia para aumentar a qualificação dos trabalhadores alemães é necessária, mas não é, sozinha, a solução.

“Nós não precisamos de qualificação em detrimento da imigração. Precisamos dos dois”, diz ele. A imigração, acrescenta, sempre beneficiou a economia. No passado, a maioria dos imigrantes queria trabalhar e gerou renda nos países que adotaram. Isso teve resultados na economia, e na Alemanha não foi diferente.

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Um grande número de alemães ainda faz fila em agências de trabalho procurando empregoFoto: AP

"Claro, alguns podem sair perdendo, principalmente aqueles competindo pelas vagas", diz ele. "Mas o resto da sociedade só tem a ganhar." Então por que há tanta oposição em relação a acabar com as restrições?

"Acho que o medo de ser esmagado e talvez um pouco de xenofobia leve à rejeição por parte da sociedade alemã", diz Schäfer. Tais temores, no entanto, seriam infundados. Estudos mostram que, no primeiro estágio, cerca de 200 mil trabalhadores migrariam para a Alemanha a cada ano. Num período de 20 anos, o total ficaria entre 2 e 4 milhões de pessoas.

"Nós realmente temos que deixar de lado essa noção de que as pessoas vão ficar fazendo fila para entrar no país", diz ele.

Do lado dos sindicatos, há também o temor de que a vinda de mão-de-obra do Leste Europeu leve a reduções salariais ou influencie acordos salariais prévios. Em resposta, Schäfer aponta que este não foi o caso quando o mercado de trabalho alemão foi aberto a trabalhadores do sul da Europa nos anos 1980.

Para Brower-Rabinowitsch, antes de pensar em diminuir as barreiras trabalhistas, o governo precisa estabelecer um salário mínimo. Schäfer, entretanto, diz que esta não é a solução.

"Um salário mínimo desencorajaria trabalhadores estrangeiros a virem para a Alemanha", diz ele. "Então a economia já não se beneficiaria da imigração."

Polônia se preocupa com falta de mão-de-obra qualificada

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A Polônia está tendo dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada na área de construçãoFoto: AP

As preocupações da Alemanha encontram eco nos vizinhos no leste. Desde a expansão da EU, trabalhadores do leste, sobretudo da Polônia, têm deixado seus países em busca de trabalho na Grã-Bretanha e na Irlanda, que não têm restrições aos novos países-membros da UE.

Um estudo recente da companhia de pesquisa de mercado ARC Ryneki i Opinia, baseada em Varsóvia, mostra que principalmente poloneses com boa formação estão saindo do país – e não estão voltando.

“Isso é uma ameaça aos empregadores poloneses”, disse Jeremi Mordasewicz, especialista em mercado de trabalho da associação polonesa de empresários Lewiatan, ao jornal Financial Times Deutschland. Segundo ele, muitas companhias do país estão buscando desesperadamente mão-de-obra qualificada , sobretudo no setor de construção.

Thomas Steg, porta-voz do governo alemão, diz que a decisão sobre uma extensão do prazo para abertura do mercado de trabalho alemão até 2011 provavelmente será tomada no início de 2009. A questão será debatida pelo governo no fim de agosto, após o fim do recesso de verão.