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Agricultura moçambicana tem condições para produzir mais e melhor

30 de novembro de 2011

Políticas públicas eficazes podem melhorar o desempenho agrícola de Moçambique e combater a escassez alimentar. Irrigação, técnicas modernas e o exemplo do Malawi são as sugestões de três especialistas moçambicanos.

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Especialista estrangeiro avalia efeitos da seca, em Moçambique
Especialista estrangeiro avalia efeitos da seca provocada pelas alteracões climáticasFoto: Kathleen Masterson/Harvest Public Media

Investimentos públicos em irrigação, logística, e novas técnicas de cultivo deverão ser os eixos estratégicos que o governo de Moçambique deverá explorar no futuro para desenvolver e modernizar o setor agrícola, defenderam especialistas moçambicanos em declarações à Deutsche Welle.

Em Moçambique mais de 80 por cento das famílias pobres vive em áreas rurais. A agricultura é a principal fonte de alimento e renda. A produtividade agrícola é uma das mais baixas da África Austral contribuindo para um acentuado défice na balança agrícola do país e para a escassez de bens alimentares.

A pesquisa do INE indica que para 42,2 por cento das famílias rurais, os campos não produzem o suficiente para as suas necessidades alimentares. Aquele número subiu para 65,7 por cento na província de Gaza e para 51,9 por cento em Inhambane, ambas no sul do país.

Escassez alimentar

Em Nampula, uma das províncias mais férteis e populosas do país, 50,8 por cento dos agregados familiares revelaram ser afetados pela escassez de alimentos.Na maioria dos casos 51,3 por cento das famílias que tiveram escassez de alimentos culparam a falta de chuva para a quebra de safra, mas 9,1 por cento disseram que passavam fome porque não têm terras suficientes para cultivar.

Criança a comer arroz
Criança a comer arrozFoto: Manuel Özcerkes

O economista Mahomed Valá, do Ministério da Agricultura, diz que o país enfrenta dificuldades na modernização do setor agrícola e na melhoria da irrigação dos solos aráveis. “Infelizmente temos ainda 97 a 98 por cento da população a praticar agricultura de sequeiro, porque realizamos poucas benfeitorias na irrigação.”

Segundo o censo do INE, 57 por cento da área cultivada no país é ocupada por "alimentos básicos", como arroz, sorgo, milho, amendoim e vários tipos de feijão. Embora a mandioca seja um alimento básico na maior parte do campo e cultivada em mais de um milhão de hectares, não é considerada " cultura alimentar básica".

O economista moçambicano, Nuno Castel Branco, sustenta que o governo, à semelhança do que faz noutros setores, deve mostrar que também é capaz de dinamizar a agricultura e melhorar a vida dos camponeses.

“Em Moçambique somos capazes de organizar a produção de carvão de gas, a produção de alumínio, de areias pesadas e não somos capazes de organizar a produção, armazenamento, conservação, transformação, transporte dos alimentos que as pessoas precisam para comer. Não pode ser. Não faz sentido.”

A pesquisa do INE revela que 42,2 por cento das famílias rurais acham que a atividade agrícola não produz o suficiente para as suas necessidades alimentares. Nas províncias de Gaza e Inhambane,no sul do país, a mesma percepção é partilhada respectivamente por 65,7 e 51,9 por cento dos inquiridos.

Castel Branco considera que esta situação demonstra a necessidade de uma abordagem estratégica bem como de potenciar a articulação das atividades agrícolas, com a indústria, e os serviços, designadamente nas áreas dos transportes e logística.

“Para ter agricultura temos que ter alguma indústria e para ter alguma indústria temos que ter agricultura. Para a agricultura e indústria se ligarem eu tenho que ter transporte, caminho-de-ferro, barco, estrada, armazém e carro. É preciso ter um sentido estratégico”, acrescentou.

Malawi é exemplo

Em Nampula, província fértil e populosa no norte do país, 50,8 dos domicílios revelaram ter vivido situações de escassez alimentar.

Escassa produçao de trigo e de arroz
Escassa produçao de trigo e de arrozFoto: DW

Na maioria dos casos 51,3 por cento das famílias afetadas atribuíram a quebra das colheitas com a falta de chuva. Quase 10%, em contrapartida, disseram que passam fome porque não têm terras suficientes para cultivar.

O economista Fernando Couto considera incompreensível que Moçambique importe alimentos quando tem potencialidades para ser um grande produtor agrícola no continente africano desde que sejam adotadas políticas públicas adequadas.“Vejamos a experiência do Malawi. O camponês malawiano, que não difere do moçambicano. Tem uma produtividade superior porque determinados insumos agrícolas são dados pelo Estado a custo zero”, exemplificou.

A área cultivada em Moçambique no ano agrícola 2009-2010 ocupou 5.5 milhões de hectares, um aumento de 47 por cento em relação à década anterior, segundo dados do censo agrícola e pecuário do INE.

Autor: Romeu da Silva
Edição: Pedro Varanda de Castro/António Rocha