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'Adopted'

Christoph Richter (av)7 de fevereiro de 2009

Um projeto demonstra que a arte é capaz de interferir na sociedade. Invertendo a concepção usual, ele faz a ponte entre grandes famílias africanas e adultos europeus a quem nada falta – nem mesmo a solidão.

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Invertendo o conceito de caridadeFoto: Christoph Richter

Uma artista conceitual de Berlim promove apadrinhamentos entre a Europa e a África. A ideia lhe ocorreu quando, mais uma vez, se deparou em sua caixa de correio com os olhos tristes de uma criança africana, convidando a que alguém se tornasse sua madrinha ou padrinho.

Gudrun Widlok pensou: por que não virar o jogo? E decidiu tornar-se intermediária para adultos europeus que, entre o trabalho e as exigências da cidade grande, deixaram de ter uma vida familiar. Mas a quem continua fazendo falta o sentimento de conforto e proximidade. Nascia o projeto Adopted – Adotado/a.

"Tenho medo da velhice"

Kunstprojekt Adopted Patenschaften für einsame Europäer
Gudrun Widlok (e) e uma 'cliente'Foto: Christoph Richter

A designer Steffi Adams, de Colônia, desejaria ter uma família, com "pai, mãe, criança, avó, avô, tias". Ela mora na cidade grande e está sempre sozinha. "Mas não quero mais ser só. Por isso gostaria de ser adotada." De preferência por uma grande família, lá do interior de Burquina Fasso.

Steffi quer trabalhar no campo, estar no seio de uma família que a aceite como uma filha pródiga. "Pois acho que não preciso daquilo que a sociedade me diz que as pessoas precisam. Preciso mais é de laços de família, dessa sensação de estar protegida. Tenho medo da velhice."

Este ano ela viajará pela primeira vez para Burquina Fasso, para encontrar sua família de adoção, com a intermediação de Widlok. Quanto tempo ela ficará, se eles se gostarão e se entenderão, tudo isso está em aberto.

Solidão se alastra

Quando Gudrun Widlok apresentou Adopted em Burquina Fasso e Gana, as pessoas não se surpreenderam nem um pouco. Muitos disseram: "Sim, há muito tempo que penso nisso, que desse jeito não pode funcionar. Gente que vive sozinha num apartamento, isso não tem futuro".

Aquilo que, à primeira vista, parece um mero projeto de intercâmbio, é antes uma "composição experimental artística", que joga com percepções e realidades. Widlok quer desestabilizar, romper com as concepções pré-estabelecidas que partem do princípio de que só os europeus são capazes de ajudar as pessoas do Terceiro Mundo.

Ela afirma que também se pode inverter o conceito dos apadrinhamentos euro-africanos – e diz isso sem cinismo, assegura. E aponta assim para um tema tabu, pois nos países industrializados ocidentais cada vez mais gente vive só.

Nos últimos 30 anos, o número dos domicílios com um único morador duplicou, e a taxa de divórcios aumenta de ano a ano. Sobre este tema reina o silêncio, embora há muito se haja constatado que a solidão na sociedade ocidental é sem igual.

"Muita gente escolheu para si esta forma de viver e está bem satisfeita de estar solitária. Mas, ao mesmo tempo, se percebe de vez em quando um anseio: 'Mas não quero viver assim tão só'. E as pessoas não saem dessa ambivalência: por um lado se cultiva o individualismo, por outro falta algo a elas", descreve Gudrun Widlok.

Pobres europeus ricos

Kunstprojekt ADOPTED von Gudrun f. Widlok, einsame Europäer suchen die Geborgenheit einer Familie in der Dritten Welt wie in Afrika
A artista em 2003, ao levar o projeto para a ÁfricaFoto: Kay Herschelmann

Adopted começou há oito anos em Berlim. Em 2003, Widlok esteve pela primeira vez na África, levando sua mostra com fotos de europeus pálidos e tristes, numa cooperação com o Instituto Goethe. A repercussão foi enorme. Logo, mais de 100 famílias da África Ocidental se apresentaram, dispostas a receber os europeus solitários.

"De início fiquei, sim, surpresa de que tantos se candidatassem, querendo participar. Foi muito bonito constatar que aquilo que eu pensara na época também procedia, em vários casos."

O projeto fora planejado apenas como um jogo de ideias, visando mover algo nas cabeças. Espontaneamente se deu que africanos e europeus solitários queiram, de fato, se conhecer. Mas isso também prova que interferências artísticas são capazes de provocar mudanças na sociedade.

Uma equipe de filmagem acompanhará os primeiros europeus que irão à África, no início de segundo trimestre de 2009, para conhecer suas famílias. O filme será exibido na televisão no próximo ano.