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Acordo nuclear divide Oriente Médio

3 de abril de 2015

Eixo sunita, liderado por monarquias do Golfo, recebe com cautela entendimento, que é aplaudido por aliados xiitas do Irã. Israel faz duras críticas, e linha dura do regime dos aiatolás diz que Ocidente saiu ganhando.

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Negociadores iranianos são recebidos em Teerã
Foto: Irna

O entendimento histórico alcançado com o Irã foi recebido de formas distintas no Oriente Médio nesta sexta-feira (03/04), dia seguinte ao fim das negociações em Lausanne, na Suíça. Aliados do Irã, um regime xiita, e a coalizão de países sunitas liderada pela Arábia Saudita reagiram em diferentes tons – todos, porém, sem demonstrar o mesmo nível de otimismo externado no Ocidente.

Entre Arábia Saudita e as outras monarquias do Golfo Pérsico, onde o temor do expansionismo iraniano é mais acentuado, houve um misto de apoio à iniciativa dos Estados Unidos – um importante aliado – e cautela.

O eixo sunita da região teme que o acordo dê legitimidade ao regime iraniano e permita que o país, mesmo com restrições, mantenha tecnologia para, no futuro, desenvolver uma bomba atômica. Suas preocupações são similares às de Israel, mas são manifestadas de forma mais privada – como fez o rei saudita Salman bin Abdulaziz al-Saud.

Riad reagiu ao acordo com um telefonema de Saud ao presidente americano, Barack Obama. Nele, segundo a imprensa oficial saudita, o monarca expressou sua esperança de que o entendimento "sirva para reforçar a estabilidade e a segurança na região".

O discurso foi bem parecido com o de Omã, outra monarquia sunita do Golfo, mas que goza de relativamente boas relações com Teerã. O país, que pode exercer importante ponte entre o regime dos aiatolás e o Ocidente, também se referiu ao acordo como uma chance de levar mais "estabilidade e segurança" ao Oriente Médio.

A notícia foi recebida de forma mais positiva entre os aliados árabes de Teerã, como Iraque, Síria, Bahrein e o grupo radical libanês Hisbolá. Para eles, um acordo representa – ao menos por enquanto – espantar o fantasma de uma intervenção militar ocidental no Irã.

"É uma vitória para o Irã, porque garante a permanência de seu programa nuclear e seu direito de enriquecer urânio com objetivos pacíficos, o que Teerã buscava desde o início", afirmou o deputado libanês Walid Sukkarieh, do braço político do Hisbolá.

Conservadores iranianos criticam

Após o fim da reunião em Lausanne, centenas de iranianos foram às ruas de Teerã celebrar. Para eles, o acordo pode representar uma retomada da economia do país, minada pelas duras sanções impostas pelo Ocidente na última década.

No desembarque em Teerã, o chanceler Mohammed Javad Zarif teve seu carro cercado e foi recebido como um herói. "Eu vejo um futuro claro e brilhante", disse, a seu lado, um membro da equipe negociadora.

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Chanceler iraniano foi recebido como heróiFoto: Reuters/B. Smialowski

O entendimento, porém, não é unanimidade no país. A linha dura considerou o resultado uma barganha para o Ocidente e um desastre para o Irã. Apoiadores das negociações, por outro lado, compararam a ala conservadora do regime ao governo israelense.

"Trocamos um cavalo pronto para o páreo por um com rédeas arrebentadas", disse Hossein Shariatmadarim, conselheiro do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khomenei. "Um desastre aconteceu em Fordo", afirmou à agência de notícias Fars o analista conservador Mahdi Mohammad, em referência a uma instalação de enriquecimento de urânio.

Israel: "Ameaça à sobrevivência"

De todas as críticas, as mais duras saíram de Israel. Em sua página no Facebook, o ministro israelense da Economia, Naftali Bennett, sugeriu indiretamente que o acordo é comparável ao entendimento firmado entre o premiê britânico Neville Chamberlain e Adolf Hitler antes da Segunda Guerra Mundial.

"O regime de terror islâmico mais radical do mundo recebe um selo kosher oficial para o seu programa nuclear ilegal", disse Bennett, membro do partido de direita Casa Judaica.

Obama telefonou ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para explicar-lhe o acordo preliminar. O chefe de governo, porém, manteve o tom de duras críticas às negociações.

"Um acordo pode ameaçar a sobrevivência de Israel", escreveu um porta-voz no Twitter, citando Netanyahu.

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Representantes de EUA, China, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha e Irã em Lausanne, após o entendimentoFoto: Getty Images/AFP/F. Coffrini

O acordo

Segundo o acordo, o Irã reduzirá sua capacidade de enriquecimento de urânio, diminuindo o número de centrífugas de 19 mil para cerca de 6 mil. Teerã também concordou em não construir quaisquer novas instalações com o propósito de enriquecer urânio por 15 anos.

Neste mesmo período, o Irã se comprometeu a não enriquecer urânio acima de 3,67%, além de aceitar em reduzir o seu estoque atual de cerca de dez toneladas de urânio com baixo enriquecimento para 300 quilogramas.

Teerã só poderá enriquecer urânio na usina de Natanz, e apenas usando as centrífugas de primeira geração, 5060 IR-1, removendo de todas as usinas suas centrífugas mais modernas. Ou seja, todos os modelos, de IR-2 até IR-8, não poderão ser usados pelos próximos dez anos.

Também o reator de águas pesadas de Arak, com base num projeto acordado com o P5+1, será redesenhado e reconstruído para impossibilitar a produção de armas de plutônio. O núcleo original do reator será destruído ou removido do país.

O Irã também se comprometeu a submeter seu programa de enriquecimento de urânio a um amplo sistema de controle pelos próximos 20 anos. Os inspetores terão acesso às minas de urânio e à cadeia de fornecimento do programa nuclear iraniano, além de maiores informações sobre instalações declaradas e não declaradas pelo governo.

Em contrapartida, as sanções ocidentais deverão ser aos poucos levantadas, depois que inspetores terem verificado que o Irã adotou todos os compromissos. Se em algum momento o Irã não cumpri-los, as sanções voltam imediatamente.

RPR/ap/rtr/dpa