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Achado pode desbancar "Lucy" como "mãe da humanidade"

28 de maio de 2015

Há 40 anos, descoberta feita na Etiópia é aceita como primeiro ancestral dos seres humanos. Porém, fósseis desencavados a 50 quilômetros de distância contam outra história, iniciando debate na comunidade científica.

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Reconstituição de "Lucy" por um escultor, no Museu de Ciência Natural de HoustonFoto: Getty Images/D. Einsel

Em 1974, antropólogos encontraram na região de Afar, no norte da Etiópia, os restos de um hominídeo do sexo feminino que viveu entre 2,9 e 3,8 milhões de anos atrás. O achado foi denominado Australopithecus afarensis, ou, coloquialmente, "Lucy". Alguns cientistas a declararam "Mãe da Humanidade".

No entanto, há quatro anos, a apenas 50 quilômetros do local e de "Lucy", foram desencavados um maxilar, dentes e outros fragmentos fossilizados de pelo menos três outros indivíduos, datando de 3,3 a 3,5 milhões de anos. Os fósseis foram designados Australopithecus deyiremeda.

Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, liderou o estudo dos achados cujos resultados foram publicados nesta quarta-feira (27/05) na revista Nature.

Segundo o paleoantropólogo, havia duas ou três espécies humanas primitivas vivendo na mesma época, em grande proximidade geográfica. O Homo sapiens, ou ser humano moderno, só apareceu há 200 mil anos, e o primeiro membro do gênero Homo, há 2,8 milhões de anos.

Parentesco próximo

Deyiremeda significa "parente próximo" no idioma do povo afar. Assim como "Lucy", o Australopithecus deyiremeda possuía características tanto humanas quanto simianas, e provavelmente representa um conjunto de ossos de um grupo mais amplo de candidatos à ascendência humana direta.

Os fósseis são bastante diferentes dos de "Lucy", os dentes têm tamanho, formato e espessura do esmalte distintos. O maxilar inferior mais robusto também leva os autores do estudo a concluírem que os hominídeos mantinham dietas diferentes.

Äthiopien - Fossil Lucy
"Lucy" em osso e... ossoFoto: Getty Images

Os pesquisadores estimaram a idade dos fósseis com base nas características radioativas do solo e em dados sobre as alterações no campo magnético da Terra, armazenadas no sedimento que contém ferro.

"Acho que é tempo de observarmos as fases mais antigas de nossa evolução com uma mente aberta e examinar cuidadosamente os indícios fossilizados atualmente disponíveis, em vez de imediatamente descartarmos os fósseis que não se encaixam nas hipóteses que mantemos há tanto tempo", propôs Haile-Selassie.

Embora ninguém duvide do parentesco próximo com o Australopithecus afarensis, no debate sobre a "maternidade" da espécie humana pelo menos uma voz contrária já se ergueu.

"Variações anatômicas são normais dentro de uma espécie biológica", declarou o evolucionista Tim White, da Universidade de Berkeley, Califórnia, num e-mail à agência de notícias Associated Press. Ele acredita que, na verdade, o atual achado pertença â espécie de Lucy. "Por isso é que tantos anúncios desse gênero são logo desmentidos", censurou.

AV/rtr/afp/ap