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A manifestação só vai ser travada pelas força das baionetas

António Rocha13 de março de 2015

A sociedade civil de Cabinda, realiza no sábado (14.03) uma marcha contra as "violações dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e a má governação em Cabinda”.

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Exploração off-shore de petróleo em CabindaFoto: AP

A marcha, segundo os organizadores, tem como propósito a denúncia dos atropelos aos Direitos Humanos e a falta de transparência na administração do erário público e exigir, por outro lado, o cumprimento da lei dos padrões universais referentes à administração da Justiça e da boa gestão económica.

A DW África, entrevistou José Marcos Mavungo, Coordenador da Marcha e Ativista dos Direitos Humanos em Cabinda, uma região que “é neste momento vítima de um despotismo feudal e ao mesmo tempo de uma violenta repressão. Cabinda produz muita riqueza e é tida como uma vaca leiteira. As riquezas de Cabinda estão concentradas nas mãos de uma minoria que não as quer partilhar. Ao mesmo tempo, o empresariado local está praticamente descapitalizado, perseguido e ninguém pode questionar o que está mal, ninguém pode criticar e ninguém pode manifestar as suas opiniões”.Questionado se a sociedade civil de Cabinda, que organiza esta manifestação, já tem autorização das autoridades para a realização da marcha no sábado, José Mavungo evocou a lei angolana.

Segundo ele, "legalmente, a manifestação não carece de qualquer autorização das autoridades. Simplesmente os manifestantes informam as autoridades de que vai haver uma manifestação, definem os objetivos da mesma e então pedem ao Governo para que a polícia esteja presente com a missão de evitar vandalismo e distúrbios. Nós seguimos todos os tramites legais. E além disso, a Declaração universal sobre os direitos humanos diz que a manifestação é um direito legítimo”, sublinhou o ativista.

Manifestações não carecem de autorizações

Mavungo disse à DW África que o governo convocou os organizadores da marcha para tentar “fintar-nos e em resposta demos todos os esclarecimentos. Em seguida, disseram-nos que a manifestação iria criar distúrbios no seio da sociedade. Mas perguntamos porquê? Porque não somos do MPLA (o partido no poder) ou porque somos da oposição? Será que o MPLA é o único que congrega no seu seio homens com sentido cívico e na oposição não há nada disso? Então respondemos que isso não passa de uma intimidação. Estamos ao serviço do povo, em defesa da justiça e a manifestação só vai ser travada pela força das baionetas. Foi esta a mensagem que passei ao Comandante da Polícia e outras entidades em Cabinda que não apresentaram qualquer tipo de argumentação sobre a proibição da marcha”.

Em manifestações ou marchas de protesto ocorridos anteriormente em algumas cidades angolanas, os participantes foram espancados, molestados, presos, etc.. E será que desta vez os manifestantes não irão correr um certo risco?

“Todas vezes que em Cabinda foram realizadas manifestações, houve uma presença bem forte da polícia, tanques militares, helicópteros de combate e outros meios para intimidar e reprimir as pessoas. E já dissemos que quem não arrisca não petisca. A liberdade tem um preço e estamos preparados para pagar este preço” disse de forma clara e determinado o nosso entrevistado.Perguntamos ainda a José Mavungo se a manifestação de sábado não seria mais uma das muitas que já tiveram lugar em Angola e que na verdade provocaram poucas mudanças na situação do país? Segundo a tivista “é verdade que nos últimos anos já tiveram lugar muitas manifestações em Angola, algo que provocou o endurecimento do sistema despótico do regime. Mas acreditamos que todos os déspotas acabam por sucumbir. A fruta por mais tempo que fique na árvore acaba um dia por amadurecer e cair. Acreditamos que essas ações que vão tendo lugar um pouco por toda Angola e que despertam cada vez mais indignação no seio da população, vão sempre dar frutos.

Situação em Cabinda é cada vez pior

Cabinda Landkarte Map Afrika
Cabinda, um enclave no norte de AngolaFoto: Wikipedia
Angola Polizeipatrouille in Cabinda
Patrulha de polícia em Cabinda em janeiro de 2009Foto: picture-alliance/abaca

E o ativista cita como exemplo a situação que a população de Cabinda vive atualmente.

"Vivemos situações intolerávbeis. As pessoas são mortas como se fossem galinhas e por essa e outras razões decidimos realizar a manifestação de sábado. A vida humana deve e tem que ser respeitada. Não podemos cruzar os braços quando os nossos irmãos são mortos diáriamente, quando todos os dias somos roubados, quando todos os dias somos perseguidos e quando todos os dias sentimo-nos estrangeiros na nossa própria terra”.Entretanto, a cidade de Cabinda está aparentemente calma, mas segundo Mavungo, “a população já está à espera da chegada de um forte contingente de tropas que vai ser enviado pelo Governo. Por outro lado, pode-se ver muitos elementos de segurança à paisana espalhados aqui e acolá. A população comenta e lamenta a situação, mas a tensão é muito grande”, concluiu.

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