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A eterna incerteza da classe média chilena

22 de janeiro de 2013

A classe média no Chile tem mais dinheiro, mas ainda vive na corda bamba. Especialistas analisam a situação do país considerado modelo de desenvolvimento econômico na América Latina.

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Foto: picture-alliance/dpa

Bairros tranquilos, boas casas, eletrodomésticos, crianças em escolas particulares ou estaduais de boa qualidade, acesso a TV a cabo e internet – além, é claro, do acesso ao crédito para bancar tais luxos. Assim se pode definir, em geral, a classe média no Chile, onde 84 por cento da população faz parte desse grupo, de acordo com estudos realizados pela Universidade do Chile e Universidade Alberto Hurtado.

Mas os dados oficiais são outros. Para o Estado, uma pessoa de classe média ganha entre 380 e 1030 reais por mês. Sendo assim, ficam de fora os sem-teto ou famílias grandes com apenas uma fonte de renda, que, em sua maioria, recebem subsídios do Estado.

No contexto latino-americano, o Chile é considerado modelo de desenvolvimento econômico. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê crescimento de 5,1% para o país em 2013, depois do bom desempenho em 2012, ano em que a economia chilena cresceu 4,4%. Com o resultado, o Chile é o país que mais cresce entre os membros da OCDE.

Da população, entretanto, o que se ouvem são críticas. A classe média se queixa de ser esquecida pelo governo. A luta para combater a pobreza no país inclui também as camadas sociais que não vivem na miséria, mas que também não têm muito dinheiro à disposição – pessoas que podem cair na pobreza, caso percam o emprego.

Alberto Mayol, sociólogo da Universidade do Chile e autor de livros como Não ao lucro – Da crise a nova era política, diz acreditar que "o fenômeno principal em relação à classe média chilena é a desestabilização e a precariedade do trabalho. Hoje, um membro da classe média ganha mais do que antes, mas sua estabilidade é menor. Seu princípio básico é a incerteza."

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Classe média chilena vive com conforto, mas corre o risco permanente da instabilidadeFoto: MARTIN BERNETTI/AFP/Getty Images

Vulneráveis ao desemprego

A classe média chilena se desenvolveu no final do século 19, com a explosão do comércio de nitrato de sódio no norte do país, que transformou a estrutura econômica do Chile e permitiu o surgimento de novas camadas sociais, formadas por profissionais liberais, artesãos e pequenos empresários.

"A partir dos anos 1960, com a estagnação do modelo de desenvolvimento, a classe média perdeu importância política e social para as classes mais pobres. A ditadura de Pinochet logo instituiu um regime político, econômico e social voltado ao mercado, e a classe média teve que encontrar seu espaço na economia privada", disse Emmanuelle Bazoret, socióloga da Universidade do Chile, em entrevista à DW.

De acordo com um estudo realizado pela pesquisadora, a classe média no Chile corresponde a 43% da população. As classes populares englobam 47%, e os mais ricos formam os 10% restantes. "A renda média no Chile é baixa, o que tende a limitar a distância entre setores mais pobres e a classe média. A posição social precária da classe média a deixa vulnerável aos efeitos do desemprego, de doenças e da pobreza na terceira idade."

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Crédito bancário garante o acesso da classe média ao luxoFoto: MARTIN BERNETTI/AFP/Getty Images

Educação é a única saída

Segundo Mayol, existe no Chile "um pacto social de que não se pode falar em dinheiro, assim por um lado não se ofende os pobres e por outro não se alimentam conflitos sociais." Definir-se como membro da classe média é uma forma de evitar o conflito de classes, explica o sociólogo.

Países com uma classe média forte são relativamente imunes à pobreza. Já em Estados onde os ricos são muito ricos e os pobres são muito pobres, nos quais a classe média é apenas uma média matemática entre os extremos, as diferenças sociais resultam em injustiças, explica Mayol. "Isso leva a grandes patologias sociais como insegurança, suicídios e perda de valores."

A classe média chilena vê a educação como caminho para o progresso social. Ao longo do século 20, a classe média foi se distanciando pelos anos de estudo das classes populares. "E é justamente a classe média que denuncia injustiças no modelo educacional, pois as pessoas acreditam que o mérito é proporcional ao esforço, e se decepcionam quando não recebem a recompensa correspondente", explicou Bazoret à DW.

Texto: Diego Zúñiga (mas)
Revisão: Francis França