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27 de março de 1983

Barbara Philipp (ef)

Em discurso lendário no Congresso, em 27 de março de 1983, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, lança o programa de defesa no espaço SDI, conhecido como Guerra nas Estrelas.

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Ronald Reagan
Reagan (centro) com o físico Edward Teller e o diretor do SDI, James Abrahamson, em 1988Foto: AP

Como o herói do filme Guerra nas Estrelas, Luke Skywaker, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, resolveu lutar contra o mal com canhões de laser na mão e vencer o inimigo soviético no amplo espaço sideral. Em seu histórico discurso no Congresso, em 27 de março de 1983, o líder da superpotência americana lançou o Programa de Defesa Estratégica (SDI, em inglês) e conhecido como Guerra nas Estrelas.

Sua intenção anunciada era assegurar a sobrevivência da humanidade, com liberdade e segurança. O plano do presidente republicano era instalar no espaço um cinturão de armas em volta do globo terrestre que, de forma ideal, interceptaria e destruiria longe de seu alvo todas as armas inimigas, especialmente as da superpotência rival soviética.

O plano original de guerra estratégica se perdeu, todavia, nos tempos de superarmas nucleares. Ataque ou defesa pareciam antiquados numa época em que um só míssil atômico causaria uma destruição avassaladora. A nova palavra mágica era então "intimidação".

Posição alemã

O então embaixador alemão ocidental em Washington, Günther van Well, esclareceu o que a República Federal da Alemanha esperava das promessas na corrida armamentista, depois que assinara o acordo sobre o SDI:

"Eu vejo no pacote de acordos a vantagem de nos mantermos ligados ao desenvolvimento nos Estados Unidos. Trata-se principalmente da disposição do governo alemão ocidental de participar futuramente dos mais novos desenvolvimentos no setor de tecnologia como aliado estreito dos americanos. A economia alemã depende da nossa permanência na vanguarda do desenvolvimento tecnológico."

Esse desenvolvimento tecnológico se chamava mísseis antimíssil e canhões atômicos a laser, que deveriam circundar a Terra num futuro próximo. Militares e políticos também se assustaram. Cientistas americanos com orientação comprovada na selva da corrida armamentista advertiram para que a ficção científica não fosse transformada numa política real fantasmagórica. As pesquisas mostravam que o programa Guerra nas Estrelas não seria fácil como se esperava.

Ficção e realidade

O sistema de armas do futuro baseado em canhões a laser existia só no cinema. A atmosfera seria densa demais e anularia o laser mortal. As possibilidades técnicas, que foram imaginadas para instalar as armas no espaço, estavam muito aquém das concepções dos defensores do SDI.

As consequências políticas, ao contrário, eram bastante reais. Muitas vozes se levantaram contra o plano de defesa estratégica e exigiam negociações com a União Soviética, cujos mísseis armados com ogivas nucleares podiam alcançar alvos nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.

O Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha era radicalmente contra uma participação do governo nas pesquisas para instalação de armas estratégicas no espaço. Os social-democratas oposicionistas não admitiam uma participação do seu governo numa decisão sobre o programa Guerra nas Estrelas.

Eles faziam pressão sobre governo para que fossem iniciadas negociações com a meta dupla de evitar a instalação de um sistema de armas no espaço e, paralelamente, fomentar uma redução drástica das armas nucleares. Os social-democratas ponderavam, todavia, que não poderiam nem queriam impedir uma cooperação da iniciativa privada alemã com as pesquisas, sem acordos com o governo.

Oposição dividida

A oposição social-democrata no Parlamento em Bonn chamava atenção para a posição especial da Alemanha dividida entre os blocos capitalista e comunista. Em meados dos anos 80, a linha de marcação entre o Ocidente e o Leste Europeu era um arsenal gigantesco. As duas Alemanhas reagiam com muita sensibilidade às mudanças de opinião e aos focos de ameaça.

Depois de encontrar-se em Berlim Oriental com o chefe de Estado e de partido da Alemanha Oriental, Erich Honecker, o líder dos social-democratas na Alemanha Ocidental, Hans Jochen Vogel, comentou: "No que diz respeito ao desenvolvimento das relações entre os governos das Alemanhas, é evidente que os acordos sobre o SDI assinados pela Alemanha Ocidental são levados muito a sério na Alemanha Oriental e afetam as relações entre os dois Estados."

Ainda hoje é difícil visualizar a verdadeira substância que havia por detrás do grande clamor dos promotores do SDI. Duas gerações de políticos americanos sonharam com o Guerra nas Estrelas, até que o programa de defesa estratégica foi congelado pelo governo do democrata Bill Clinton.